Introdução ao Antigo Testamento - Torah ou Pentateuco

10-06-2011 11:02

O PENTATEUCO OU TORAH

O Primeiro Lugar de Ordem e de Honra entre os Livros do Antigo Testamento ocupa-o aquele que os gregos chamaram Pentateuco, isto é, Obra em Cinco Tomos. Para os Hebreus é a "Torah", ou seja, a Lei, nome tomado da Matéria Central.

Também os Hebreus os dividiram nos mesmos Cinco Livros que os Gregos, distinguindo-os com a palavra inicial. Nós usamos exclusivamente os nomes impostos pelos Gregos, que de maneira graciosa lhes caracterizaram o conteúdo: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. De fato, o Gênesis narra as Origens do Universo e do Gênero Humano até à Formação paulatina do Povo de Israel na Sua Estada no Egito. O Êxodo narra a Saída dos Israelitas do Egito, conduzidos por Moisés aos pés do Monte Sinai, para aí receberem de Deus a sua Lei Religiosa e Civil e se constituírem, por meio de um Pacto Sagrado ("Testamento"), em peculiar "Povo de Deus." O Levítico regula o Culto Religioso à maneira de Ritual, dirigido especialmente aos Levitas, que formavam o Clero Consagrado ao Serviço do Santuário. Os Números recebem o Nome dos Recenseamentos do Povo contidos na primeira parte, estendendo-se, depois, em referir Fatos e Providências Legislativas correspondentes a cerca de quarenta anos de vida nômade no Deserto da Península Sinaítica. No Deuteronômio, ou Segunda LeiRepetição da Lei -, emanada pelo Fim da Jornada no Deserto, Moisés retoma a Legislação precedente para adaptá-la às novas condições de vida sedentária, em que o povo viria a se encontrar com a Conquista iminente da Palestina.

Quem é o Autor do Pentateuco? Desde a mais remota Antigüidade foi considerado seu Autor Moisés, o protagonista dos últimos quatro livros. Já nos Livros Posteriores da Bíblia citam-se-lhe várias sentenças com a fórmula: "Está escrito na Lei de Moisés" ou "no Livro de Moisés," ou "no Volume da Lei de Moisés”. Destarte, para não falar do Livro de Josué, que é a continuação imediata e como que o complemento do Pentateuco (Josué 8:31). Os Evangelhos, no Novo Testamento, nos apresentam a convicção de que Moisés é Autor da Lei, difundida e radicada entre os Judeus; o próprio Jesus, bem como os Apóstolos admitem-na e a confirmam (q, v. São Mateus 8:4; São Marcos 12:26; São Lucas 20:37; São João 5:46; Atos dos Apóstolos 3:32, etc..).

Entre as Testemunhas eloqüentes da Fé Judaica figuram Fílon de Alexandria[1], Flávio Josefo[2] e o Talmud[3]; entre os Cristãos, os Padres da Igreja[4] são unânimes em reconhecer Moisés como Autor do Pentateuco.

Não contraria essa atribuição o fato de que de Moisés se fale sempre em terceira pessoa; Xenofonte[5] e Júlio César[6] (para falar só em nomes célebres),fizeram o mesmo. Nem suscita a menor dificuldade a grande Antigüidade de Moisés (cerca do século XIV a.C.), pois agora sabemos por documentos originais recentemente descobertos, que naquela época, não só a escrita já era conhecida desde séculos, mas até o próprio alfabeto fenício-hebraico já fora inventado. Nem derrogam esta convicção universal a opinião de alguns, já na Idade Média, de que um outro trecho breve, como os oito últimos versículos do Deuteronômio, que narram a morte de Moisés, tenha sido acrescentado mais tarde ao Pentateuco.

Gênesis

O Gênesis narra as Primeiras Origens do Mundo, do Gênero Humano, do Povo Hebreu, tudo relacionado com Deus, com Sua Revelação, com Seu Culto. Deus cria o Universo, revela-se aos Primeiros seres humanos, Deus escolhe uma Família (Abraão e Sua Descendência), para no seio dela conservar e desenvolver os Germes da Primitiva Revelação e a Verdadeira Religião, no intuito de preparar a Solene Revelação do Sinai, narrada no Êxodo.

A Criação do Céu e da Terra (1:1-2:3) é como que o prólogo do grandioso drama, que se divide em duas partes, e tem por protagonistas os cinco grandes Patriarcas: Adão e Noé, Patriarcas do Gênero Humano – Nações; Abraão, Isaac e Jacó, Patriarcas do Povo Hebreu e Árabe.

O todo é enquadrado pelo autor sagrado em Dez Tábuas Genealógicas (2:4, 5:1, 6:9, 10:1, 11:10, 11:27, 25:12, 25:19, 36:1, 37:2) dispostas de tal modo que, após ter registrado os ramos secundários da propagação humana, volta a narrar difusamente os destinos do ramo patriarcal, isto é, da descendência eleita, portadora da revelação divina e da verdadeira religião.

O Gênesis abrange na sua narração uma longa série de séculos, e colocando (no tronco principal das suas genealogias) ao lado dos nomes também números de anos, forneceria os elementos de uma cronologia. Infelizmente as cifras não parecem bem conservadas, porque nos números dos capítulos 5 e 11 os três textos independentes: o hebraico, o samaritano e o grego divergem entre si. Baseando-se sobre o seu texto, os gregos do império bizantino colocavam a criação do homem 5508 anos a.C. Os hebreus ainda usam uma era que no mesmo período conta 3760 anos. As Ciências Antropológicas exigem um tempo assaz maior para a Existência do ser humano sobre a terra. A Bíblia não é contrária a resultados certos de tais Ciências, também porque as Listas Genealógicas do Gênesis poderiam ser incompletas, ou seja, com omissões de elos intermediários, ou melhor dizendo, a cronologia é aproximada .

Com toda clareza, afirma que o Mundo tem só 6000 anos de existência como muitos afirmam, seria limitar de certa forma, o Poder Divino (q.v. Salmos 90:1-4, 2 São Pedro 3:8), visto que de Gênesis 1 ao11 a visão é de Mundo e não há uma cronologia precisa (Grifo Meu).

Do nascimento de Abraão à descida dos israelitas ao Egito - 290 anos (Gên 21:5 + 25:26 + 47:28), a cronologia respectiva é mais ou menos certa. Para a cronologia absoluta (baseada na era vulgar) ter-se-ia um ponto fixo no sincronismo de Abraão com Hamurabi, o célebre Rei da Babilônia, cujo famoso código de leis foi descoberto em 1902. A identificação, porém, de Amrafel, Rei de Senaar (Gên 14:1), com Hamurabi da Babilônia, é hoje mais do que duvidosa; tampouco a data do reinado deste último está definitivamente fixada; atualmente tende-se a colocar-lhe o início por volta de 1728 a.C. Tomando como ponto de partida a data em que os israelitas saíram do Egito sob o faraó Menefta pelo ano de 1200 a.C., e remontando o curso dos séculos com os dados da própria Bíblia (Ex 12:40 e passagens acima citadas), Abraão teria nascido por volta de 1900 a.C., mas não é certo qual seja o faraó do Êxodo.

Muitas Páginas do Gênesis têm correspondência nos Monumentos Babilônicos e Egípcios: nos primeiros, a História Primitiva, isto é, os primeiros 11 capítulos; nos egípcios, o resto, especialmente a História de José (37-50). Com os dois primeiros capítulos (a Criação) têm algo de semelhante vários Poemas Babilônicos entre si discordantes e que são uma, fantasiosa mitologia de crasso Politeismo; quão mais sublime pela nobreza de pensamento é a prosa simples da Bíblia! Também a Tradição Babilônica conhece dez reis, como Gênesis 5, dez patriarcas, de vida longuíssima antes do Dilúvio. Este cataclisma foi narrado em muitas Lendas Babilônicas, uma das quais foi inserida no romanesco poema "Gilgames," assim chamado por causa do herói protagonista. Os Pontos de Contato com a Narração Bíblica (Gênesis 7:8) são numerosos e típicos. A narração da torre de Babel (Gênesis 11:1-9) é toda tecida de elementos babilônicos; mas um paralelo exato não foi ainda encontrado na literatura cuneiforme. Nada ainda se encontrou nessa literatura de verdadeiramente análogo à narração do paraíso terrestre e da queda do homem (Gênesis 3).

Nos Monumentos Egípcios temos representadas muitas cenas semelhantes às narradas no Gênesis.

 Êxodo

O Segundo Livro do Pentateuco toma o nome de Êxodo da Saída dos Hebreus do Egito, onde, depois dos bons tempos de José, passaram a sofrer a mais dura escravidão. Esse acontecimento, porém, nada mais foi do que o prelúdio de fatos muito mais importantes na vida dos Filhos de Israel, os quais, de um conglomerado de famílias que eram, recuperando a liberdade, conquistaram verdadeira unidade de nação independente e receberam uma legislação especial, uma forma de vida moral e religiosa, pelas quais se distinguiram de todos os outros povos da terra.

Com toda facilidade compreender-se-á a importância deste livro, sobretudo em se pensando que, se a história civil das nações, mormente as antigas, acha-se intimamente vinculada à religião e essa à moral, isto jamais foi tão verídico como a respeito dos hebreus. As leis contidas no Êxodo formam a essência da vida civil e religiosa do povo eleito.

É bem verdade que, de todas essas leis, e especialmente as do chamado código da aliança (21:23), foram encontradas analogias notáveis no código de Hamurabì (rei babilônico, que viveu alguns séculos anteriormente a Moisés), que foi descoberto, traduzido e publicado pelo dominicano Pe. Scheil, em 1902. De tais analogias não se infere, porém, em absoluto, como pretendem alguns, a dependência do código mosaico do babilônico. Elas têm sua explicação adequada nos fatores comuns às duas sociedades, israelita e babilônica, tão próximas no tempo, no lugar e também na origem, pois os patriarcas do povo hebreu procediam do vale do Tigre.

Realmente, na legislação decretada no Sinai, nem tudo foi criado desde a raiz; muitos usos e costumes já introduzidos na prática social foram confirmados pela aprovação divina. De resto, também nas famosas leis romanas das doze tábuas descobrem-se semelhanças com o código mosaico, sem que ocorra a alguém o pensamento de querer estabelecer um parentesco entre as primeiras e o segundo. Providências semelhantes surgem espontaneamente de necessidades sociais do gênero. No decálogo, porém, e na doutrina religiosa que lhe forma a base inconcussa (20:2-17), reside a verdadeira prerrogativa do povo de Israel; nada de semelhante se encontra em nenhum outro povo. Citam-se, é certo, da literatura egípcia; certas desculpas espirituais como: "Não cometi injustiça, não roubei, não matei" etc., ou da babilônia, os esconjuros, onde se pergunta se o exorcizado ultrajou alguma divindade, se desprezou pai e mãe, se mentiu ou praticou obscenidades etc. Mas não há proporção entre os protestos de um particular para evitar o castigo (finalidade daquelas fórmulas rituais) e a autoridade soberana que impõe a lei a todo um povo. Entre os próprios egípcios e babilônios, nada há de correspondente, na legislação, àquelas fórmulas cerimoniais. O decálogo de Moisés não tem rivais no mundo.

Pelas razões citadas, os acontecimentos narrados no Êxodo tiveram um eco enorme na memória das tribos israelitas. Em quase todas as páginas do Antigo Testamento são recordadas a libertação da escravidão do Egito, a prodigiosa passagem do mar Vermelho, os golpes tremendos com os quais foi dominada a tenaz oposição do opressor egípcio, as grandiosas manifestações divinas no Sinai, o sustento milagroso de povo tão numeroso no deserto. Daí Israel deduzia os motivos mais fortes para ser grato e fiel a Deus,, e conservar uma confiança inabalável na sua providência soberana e nos seus próprios destinos.

A cronologia do Êxodo, ou seja, o ano em que os hebreus saíram do Egito, está naturalmente ligada à história desse país. Mas, já que a Bíblia não fornece os nomes dos dois faraós, o da opressão (1:8, 2:23) e o da saída (14:5), duas opiniões diversas se equilibraram entre os doutos, com autoridade e número de defensores quase iguais. Para uns, o opressor seria Totmés III (1500-1450) e o outro Amênofis II (1447-1420), da XVIII dinastia; para outros, no entanto, Ramsés II (1292-1225), da XIX dinastia, teria oprimido ns hebreus, e seu sucessor, Menefta (1225-1215); tê-los-ia libertado. A segunda opinião, que estabelece o século XIII a.C. para o Êxodo, parece-nos mais condizente com o Texto (1:11) e mais coerente com outros dados da história sagrada e profana.

 Levitico

Este Livro traz o nome de Levítico, por tratar quase exclusivamente dos Deveres Sacerdotais. Poder-se-ia compará-lo a um Ritual.

Com exceção de dois Trechos Históricos (8:10, 24:10-23), compõe-se inteiramente de leis que visam à santificação individual e nacional. Santificação, de per si ritual e exterior, que, porém, simboliza e promove certa santidade interior e moral. Toda a matéria pode ser dividida em cinco partes:

1a Leis relativas aos sacrifícios (1:7). Os sacrifícios são de cinco espécies; duas séries de leis: l" série - o rito de cada sacrifício (1:5), holocausto (1), oblação de vegetais (2), sacrifício salutar (3), sacrifício expiatório (4), sacrifício de reparação (5). 2° série -ireitos e deveres dos sacerdotes em cada espécie de sacrifícios (6-7).

2a Consagração dos sacerdotes (8:9). Nadab e Abiú são punidos por terem usurpado um ofício sagrado (10:1-7). Várias prescrições para os sacerdotes (10:8-20).

3a Leis sobre a pureza legal (11:16) dos alimentos (11), da puérpera (12), da lepra nas pessoas (13:1-46, 14:1-32), nas vestes (13:47-59) e casas (14:33-57); sobre a gonorréia (15). Rito para o dia solene de expiação (16).

4a Leis sobre a santidade (17:23): a) do povo (17:20); matança dos animais, uso do sangue, unicidade do santuário (17); prescrições que regulam os atos sexuais (18); várias prescrições religiosas e morais (19); punição para os transgressores (20); b) dos sacerdotes: núpcias e luto (21:1-15); irregularidades (21:16-24); impureza cerimonial (22:1-16; qualidades das vítimas (22:17-30); conclusão (22:31-33); c) dos dias festivos: solenidades anuais e o sábado (23).

5a Determinações diversas: lâmpadas no santuário e pães da apresentação (24:1-9); pena para o blasfemador (24:10-23); prescrições para o Ano Sabático e Jubileu (25); promessas e ameaças relativas a observância da lei (26); votos e dízimos (27).

O Sacrifício, o ato mais Sagrado, da Religião, isto é, oferecer a Deus vítimas, animais ou vegetais, não foi instituído por Moisés, mas remonta às próprias origens da humanidade (Gênesis. 4:3-4). Moisés encontrou o seu uso estabelecido e arraigado entre todos os povos. Nas tabuinhas recentemente descobertas em Ras Shamra (antiga Ugarit), na Fenícia setentrional, anteriores alguns séculos a Moisés, são mencionadas espécies idênticas de sacrifícios, até mesmo com nomes iguais (afinidade das duas línguas) aos do Pentateuco. Moisés, com suas leis, só regulamentou e consagrou ao culto do verdadeiro Deus um cerimonial já praticado, deixando ainda toda essa legislação dos sacrifícios separada das condições essenciais do pacto celebrado entre Deus e o seu povo (Ex 19:23). Nesse sentido deve-se entender aquele protesto do próprio Deus contra os judeus, por boca de Jeremias (7:22-23): "Em matéria de sacrifícios e holocaustos, eu nada disse e nada ordenei aos vossos pais ao tirá-los do Egito; dei-lhes somente esta ordem: Escutai a minha voz; eu serei vosso Deus e vós sereis o meu povo” (cf. Èxodo 19:5).

Nada, portanto, impede atribuir-se ao próprio Moisés a legislação cerimonial do Levítico, embora seja óbvio que não a tenha escrito toda de uma vez e se tenha servido, para a fixar, da obra de algum sacerdote ou levita de profissão. Nem se exclui que algumas destas leis tenham recebido em tempos posteriores modificações e acréscimos.

Devemos observar ainda, que todas essas leis cerimoniais foram elaboradas depois de Jesus Cristo. Entretanto, os sacrifícios da antiga lei haviam prefigurado o seu sublime sacrifício na cruz, no qual, único e perfeito sacrifício, teve cumprimento toda a variedade dos sacrifícios do Antigo Testamento. Ou melhor, como nos ensina S. Paulo (Hebr 9:9, 10:10), os sacrifícios levíticos recebiam sua principal eficácia de aplacar a Deus daquele valor figurativo, pois que "é impossível que, por si só, o sangue dos touros e dos cabritos cancele os pecados" (Hebr 10:4). Considerados nó seu significado típico e simbólico, os ritos escritos no Levítico continuam e continuarão a ser instrutivos.

 Números

O Quarto Livro do Pentateuco recebeu o nome de Números (em grego Arithmoi, que aqui tem o sentido de "recenseamentos") por causa dos "recenseamentos" (1:1-4:26), que são próprios deste livro e que lhe dão a sua feição particular. Contém, além disso, alguns fatos que se ligam imediatamente aos acontecimentos narrados no Éxodo, e leis semelhantes às do Levítico. Pode ser dividido facilmente, de acordo com os lugares e tempos, em três partes: no Sinai (1:1-10:10); viagens através do deserto (10:11-21:35); na margem oriental do Jordão (22:36).

1a parte. No Sinai: disposições para a partida: 20 dias. Recenseamento das tribos e respectivas posições no acampamento (1:2). Os levitas: seu destino e recenseamento; divisão por famílias e por ofícios. Leis: banimento dos impuros, restituições, ciúmes, nazireato, bênção litúrgica. Últimos fatos: donativos dos chefes das tribos ao santuário, consagração dos levitas, segunda Páscoa (9:1-14), sinais para a partida e para a parada, as trombetas (9:15-10:10).

2a parte. Viagem através do deserto: Do Sinai a Cades: partida e ordem de marcha (10:11-36), murmuração do povo, as codornizes, a lepra de Maria, irmã de Moisés. Parada em Cades: missão dos doze exploradores e queixas do povo; leis sobre as oblações e primícias, sobre o sábado e os filactérios; sedição de Coré, Datan e Abirão, e sua punição e confirmação do sacerdócio na família de Arão; relações entre sacerdotes e levitas, emolumentos de uns e de outros; a água lustral; sedição do povo por falta de água (20:1-13). De Cades ao Jordão: os edomitas negam passagem pelas suas terras; morte de Arãò (20:14-29); queixas do povo e castigo, a serpente de bronze (21:1-9); vitória sobre os amorreus e conquista de Basan (21:10-35).

3a parte. Na margem oriental do Jordão: cerca de cinco meses. A matéria desta parte, mais por ordem lógica do que por ordem do texto, pode ser assim agrupada: últimos encontros com os povos da Transjordânia; Balaão e seus vaticínios (22:24); prostituição a Beelfegor (25); guerra santa contra os madianitas e leis sobre a divisão dos despojos (31); lista das etapas (33). Grupo de leis: herança (27:1-11), festas e sacrifícios (28:29), votos (30). Disposições para a ocupação da terra prometida. Segundo recenseamento (26); nomeação de Josué (27:12-23). Distribuição da Transjordânia (32); normas para a ocupação e distribuição da Cisjordânia (33:50-34:12); designação das cidades levíticas e de refúgio (35); disposições para manter inalterada a primitiva distribuição (36).

A julgar pelo resumo, o presente livro compreende um período de cerca de trinta e oito anos e meio. Sobre a maior parte desse período (os trinta e oito anos no deserto) narra-nos apenas uns poucos fatos, mas muito notáveis pelo significado religioso, como a serpente de bronze, a sedição de Coré, os vaticínios de Balaão, a.água brotada da rocha; fatos dos quais os apóstolos no Novo Testamento tiraram utilíssimas lições (1Cor 10:1-11; Hebr 3:12-19; Jo 3:14-15). No centro do drama acham-se dois fatos semelhantes entre si, duas sedições do povo contra Moisés, executor das ordens divinas; a primeira (14), originada pela repugnância em empreender a conquista da Palestina; a segunda (20), por falta de água. Conseqüência ou punição da primeira foi a longa demora da nação inteira no deserto da península sinaítica; a segunda deixou a mais profunda impressão na consciência nacional e na literatura posterior (cf. SI 80:94-105), envolvendo o próprio Moisés, que por um instante duvidou da clemência divina e por isso teve de deixar a outros o remate de sua obra, a conquista de Canaã (cf. Dt 32).

O livro dos Números é importante para a literatura porque, entre outras coisas, nos conservou fragmentos de antiqüíssimos cânticos populares (21:23-24), com a indicação de coleções - já existentes, como "o Livro das guerras de javé" (21:14), do qual não se tem outra menção.

 Deuteronômio

O quinto e último livro do Pentateuco foi chamado Deuteronômio, isto é, "segunda lei," talvez porque assim tenha sido traduzida, embora inexatamente pelos LXX, uma frase hebraica em 17:18. No entanto, convém-lhe perfeitamente esse nome. O livro não é uma simples repetição da legislação contida nos livros precedentes, mas além de leis novas, oferece complementos, esclarecimentos e modificações às primeiras. É, de certo modo, uma segunda lei, promulgada no fim da longa peregrinação dos israelitas, paralela á lei dada no Sinai e destinada a regular mais de perto a vida do povo escolhido, no solo da Terra Prometida à qual eles estavam para chegar e dela tomar posse definitiva. Não é, porém, simples enumeração de leis e determinações; o que caracteriza esse livro, o que lhe constitui a alma, é um ardente sabor oratório. O hagiógrafo nos faz ouvir um Moisés que exorta, encoraja, invectiva; inculca á observância das leis, a começar dos grandes princípios morais; apela para os mais poderosos motivos, evoca a glória do passado, a missão histórica de Israel, os triunfos do porvir. Na mente do autor sagrado temos o testamento definitivo, que o grande guia e legislador deixa ao povo de Deus às vésperas da sua morte. Pelo estilo, o Deuteronômio é um discurso, ou melhor, vários discursos, dirigidos por Moisés aos israelitas. Deduz-se daí a divisão do livro em quatro partes:

1a parte: 1° discurso (1:4): olhar retrospectivo aos fatos acontecidos desde a partida do Horeb até às últimas conquistas da Transjordânia; exortação geral à observância da lei (4:1-40).

2a parte: 2° discurso: renovação da lei (4:44-26:19). Princípios gerais: o Decálogo (5), o culto e o amor ao único Deus verdadeiro (6), guerra à idolatria (7), benefícios de Deus, censura da infidelidade anterior de Israel, promessas e ameaças (8:11).

Leis especiais: Deveres religiosos. Unicidade do santuário e disposições relativas (12:1-28); contra a apostasia (12:29-13:18); alimentos e dízimos (14); ano da remissão (15); as três grandes solenidades anuais (16:1-17).

Direito público. Juizes (16:18-17:13), rei (17:14-20), sacerdotes (18:1-8),.profetas (18:9-22); homicídio involuntário (19), guerra (20), homicídio por mão desconhecida (21:1-9). 3) Direito familiar e privado. Grande variedade; os pontos principais são: matrimônio (21:10-14, 22:13-23,) e filhos (21:15-20), o divórcio (20:1-4), levirato (25:5-10), deveres de humanidade (22:1-12, 23:16-20, 24:6-25, honestidade (25:11-19), votos (23:22-24), primícias e dízimos (26).

3a parte: 3° e 4° discursos: ordem de promulgar a lei em Siquém, maldições para os transgressores (27), ameaças e promessas (28). Exortação à observância da lei, com a recordação dos fatos históricos, das promessas e das ameaças (29:30).

4a parte. Apêndice histórico. últimas disposições de Moisés, nomeação de Josué, seu sucessor (31); cântico de Moisés (32), bênção das doze tribos (33), morte de Moisés (34).

Amor de Deus, beneficência, alegria no cumprimento do dever, eis as principais características do Deuteronômio, princípios inculcados e repetidos com solicitude incansável. Por isso, perpassa-o um sopro ardente de sincera e profunda piedade para com Deus e uma ternura simpática pelo homem, que edifica e comove. Há páginas que se aproximam da sublimidade divina dos ensinamentos evangélicos, mais do que quaisquer outras.



[1] Fílon de Alexandria (grego: Φίλων ο Αλεξανδρινός Fílon o Alexandrinós, hebraico פילון האלכסנדרוני, Pilon ha-Alexandroni) foi um filósofo judeo-helenista (25 a.C. - c. 50) que viveu durante o Período do Helenismo. Tentou uma interpretação do antigo testamento à luz das categorias elaboradas pela filosofia grega e da alegoria. Foi autor de numerosas obras filosóficas e históricas, onde expôs a sua visão platónica do judaísmo. Fílon de Alexandria, filósofo judeu do século I, surge como o primeiro pensador a tentar conciliar o conteúdo bíblico à tradição filosófica ocidental. Neste sentido, é mais conhecido por sua doutrina do Logos, sobre a qual ainda se encontram à espera de solução inúmeras controvérsias. Aqui investigamos as acepções desse Logos na obra de Fílon, abordando suas relações com a tradição filosófica. No entanto, o Pensamento Filoniano ainda se mostra original e marcado por contribuições alheias à cultura helênica, a saber, judaicas. No que diz respeito especificamente ao Logos Filoniano, ele é a Lei (Torah) ela mesma, a ação de Deus no mundo, o instrumento da Criação, modelo do mundo e imagem de Deus, a Palavra Reveladora e o único meio a partir do qual a Alma Humana adquire o conhecimento verdadeiro, que vem do Conhecimento de Deus. Esta faculdade, porém, não pertence ao homem senão como Dom Divino, como Graça.

[2] Flávio Josefo, ou apenas Josefo (em latim Flavius Josephus; 37 ou 38 – c. 100 d.C.), também conhecido pelo seu nome hebraico Yosef ben Matityahu (יוסף בן מתתיהו, "José, filho de Matias") e, após se tornar um cidadão romano, como Tito Flávio Josefo (latim: Titus Flavius Josephus), foi um historiador e apologistajudaico-romano, descendente de uma linhagem de importantes sacerdotes e reis, que registrou in loco a destruição de Jerusalém, em 70 d.C., pelas tropas do imperadorromanoVespasiano, comandadas por seu filho Tito, futuro imperador. As obras de Josefo fornecem um importante panorama do judaísmo no século I.Suas duas obras mais importantes são Guerra dos Judeus (c. 75) e Antigüidades Judaicas (c. 94). O primeiro é fonte primária para o Estudo da Revolta contra Roma – 1ª Guerra Judaica - (66-70), enquanto o segundo conta a História do Mundo sob uma Perspectiva Judaica. Estas Obras fornecem informações valiosas sobre a Sociedade Judaica da Época, bem como sobre o período que viu a separação definitiva do Crsitaninsmo do Judaísmo e as Origens da Dinastia Flaviana, que reinaria de 69 a 96.

[3] O Talmude (em hebraico: תַּלְמוּד, transl. Talmud) é um registro das discussões rabínicas que pertencem à Lei, Ética, Costumes e História do Judaísmo. É um texto central para o Judaísmo Rabínico, perdendo em importância apenas para a Bíblia Hebraica. O Talmude tem dois componentes: a Mixná (c. 200 d.C.), o primeiro compêndio escrito da Lei Oral judaica; e o Guemará (c. 500 d.C.), uma discussão da Mixná e dos escritos tanaíticos que frequentemente abordam outros tópicos, e são expostos amplamente no Tanakh. O Mishná foi redigido pelos mestres chamados Tannaim ("tanaítas"), termo que deriva da palavra hebraica que significa "ensinar" ou "transmitir uma tradição". Os tanaítas viveram entre o século I e o III d.C. A primeira codificação é atribuída a Rabi Akiva (50130), e uma segunda, a Rabi Meir (entre 130 e 160 d.C.), ambas as versões tendo sido escritas no atual idioma aramaico, ainda em uso no interior da Síria. Os termos Talmud e Gemarah são utilizados frequentemente de maneira intercambiável. A Guemará é a base de todos os códigos da lei rabínica, e é muito citada no resto da literatura rabínica; já o Talmude também é chamado frequentemente de Shas (hebraico: ש"ס), uma abreviação em hebraico de shisha sedarim, as "seis ordens" da Mixná.

[4] Padres da Igreja, Santos Padres ou Pais da Igreja foram influentes Teólogos, Professores e Mestres Cristãos e importantes Bispos. Seus Trabalhos Acadêmicos foram utilizados como Precedentes Doutrinários para séculos vindouros. Os Padres da Igreja são classificados entre o século II e VII. O Estudo dos Escritos dos Padres da Igreja é denominado Patrística. As Igrejas Católica Romana e Católica Ortodoxa acreditam que os Padres da Igreja proporcionam a Interpretação correta da Sagrada Escritura, registraram a Sagrada Tradição e distinguiram entre as autênticas Doutrinas das Heresias.

[5] Xenofonte (em grego antigoῶν, transl. Xenophō̃n), (cerca de 430-355 a.C.), Filho de Grilo, originário de Erquia, uma deme de Atenas, foi soldado, mercenário e discípulo de Sócrates. É conhecido pelos Seus Escritos sobre a História do seu próprio tempo e pelos Seus Discursos de Sócrates. A Data de Nascimento de Xenofonte não é conhecida. Na sua Anábase, que narra acontecimentos ocorridos entre 401 e 399 a.C., é sugerido que Xenofonte seria um pouco mais novo que o seu amigo Próxeno, o qual tinha cerca de trinta anos aquando dos acontecimentos. A maioria dos estudiosos coloca portanto a sua Data do Seu Nascimento no ano 430 a.C. ou um pouco depois. Ξενοφ

[6] Caio Júlio César (em latim: Caius ou Gaius Iulius Caesar ou IMP•C•IVLIVS•CÆSAR•DIVVS; 13 de Julho, 100 a.C.[15 de março de 44 a.C.), foi um patrício, líder militar e políticoromano. Desempenhou um papel crítico na transformação da República Romana no Império Romano. As suas conquistas na Gália estenderam o domínio romano até o oceano Atlântico: um feito de consequências dramáticas na história da Europa. No fim da vida, lutou numa guerra civil com a facção conservadora do senado romano, cujo líder era Pompeu. Depois da derrota dos optimates, tornou-se ditador (no conceito romano do termo) vitalício e iniciou uma série de reformas administrativas e econômicas em Roma. O seu assassinato nos idos de Março de 44 a.C. por um grupo de senadores travou o seu trabalho e abriu caminho a uma instabilidade política que viria a culminar no fim da República e início do Império Romano. Os feitos militares de César são conhecidos através do seu próprio punho e de relatos de autores como Suetónio e Plutarco.

 

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